Para tratar a enxaqueca de forma certa, você precisa primeiro descobrir as diferenças entre ela e as dores de cabeça comuns.

O que é enxaqueca
A enxaqueca é um distúrbio neurológico caracterizado por ataques severos de dor de cabeça que duram de 4 a 72 horas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), está entre as doenças mais incapacitantes do mundo, atingindo entre 12 e 15% da população mundial. As enxaquecas surgem comumente como uma dor latejante intensa ou uma sensação pulsante - geralmente em um lado da cabeça - associada a várias combinações de sintomas neurológicos, autonômicos e gastrointestinais. Infelizmente, a maioria das pessoas não sabem como tratar a enxaqueca, voltando suas atenções meramente para esses sintomas.
Os sintomas neurológicos se manifestam como fotofobia (sensibilidade à luz), fonofobia (sensibilidade ao som) e osmofobia ou olfactofobia (sensibilidade a cheiros), bem como disfunções cognitivas, incapacidade de concentração e comunicação, irritação e muitos outros. Os sintomas autonômicos podem incluir visão turva, congestão nasal, tenesmo, poliúria, palidez, suor, intolerância à temperatura e outros. Já os sintomas gastrointestinais normalmente incluem náusea, vômito, diarreia e cólicas abdominais.
O que não é enxaqueca
- Dor de cabeça comum (tensional): É uma cefaleia mais leve, frequentemente causada por tensão muscular ou estresse, sem sintomas associados como náusea ou aura. A dor de cabeça tensional é o tipo mais comum de cefaleia, localizada geralmente em toda a cabeça (bilateral), sem predominância em um lado. É menos incapacitante, permitindo realizar tarefas diárias.
- Cefaleia secundária: Dores de cabeça causadas por outra condição, como sinusite, infecção ou hipertensão, não são enxaqueca.
- Simplesmente “frescura” ou “exagero”: Enxaqueca é uma condição médica real, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das mais incapacitantes do mundo. Infelizmente, a estigmatização faz com que muitas pessoas desvalorizem a gravidade das crises.
- Um problema simples de resolver com “qualquer remédio”: medicamentos para dores comuns, como paracetamol ou dipirona, podem não funcionar em crises de enxaqueca. A condição muitas vezes exige tratamento específico com medicamentos como triptanos, profiláticos (preventivos) e mudanças severas no estilo de vida.
- Algo que se pode ignorar facilmente: Uma crise de enxaqueca pode ser tão incapacitante que a pessoa precisa se isolar em um quarto escuro, longe de estímulos visuais, sonoros e/ou olfativos. Isso vai além de uma dor incômoda e a crise interfere diretamente na capacidade de realizar atividades cotidianas.
Pela generalização indevida, a enxaqueca é mais frequentemente associada à dor de cabeça que a acompanha. No entanto, existem vários tipos de enxaqueca, alguns dos quais, como a enxaqueca abdominal, podem até se manifestar sem dor de cabeça. A enxaqueca pode ser considerada episódica, se se manifestar por 14 dias por mês ou menos, ou enxaqueca crônica, se se manifestar por 15 ou mais dias por mês. O profissional médico mais preparado para essa avaliação é o neurologista.
A enxaqueca é geralmente controlada por medicamentos, mas muitas vezes os tratamentos farmacológicos orais para enxaqueca atualmente disponíveis podem ser mal tolerados por alguns pacientes, com efeitos colaterais desagradáveis e a eficácia menor do que a esperada.
Tratamentos não farmacológicos para enxaqueca representam uma prática clínica em expansão e uma área interessante de pesquisa, incluindo a terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia de aceitação e compromisso (ACT), acupuntura, fisioterapia, biofeedback e massagens terapêuticas, algumas com maior ou menor eficácia na redução da frequência e intensidade das crises de enxaqueca.
Tipos e manifestações da enxaqueca
- Enxaqueca sem aura: este é o tipo mais comum de enxaqueca, caracterizado por dores de cabeça moderadas a intensas, geralmente pulsantes, que podem durar de 4 a 72 horas. Como já dito, os sintomas principais incluem dor localizada em um lado da cabeça (embora possa afetar ambos os lados), náusea e/ou vômito, sensibilidade à luz e ao som. A dor pode ser agravada por atividades físicas rotineiras.
- Enxaqueca com aura: Neste tipo, o paciente experimenta sintomas neurológicos transitórios antes ou durante a dor de cabeça. Esses sintomas, conhecidos como aura, geralmente duram de 20 a 60 minutos. A aura é caracterizada por distúrbios visuais como pontos brilhantes, linhas em zigue-zague ou perda parcial da visão. Sensações de formigamento ou dormência, geralmente no rosto ou nas mãos, também fazem parte do quadro sintomático, além da dificuldade para falar ou compreender a linguagem (afasia), tontura e sensação de desequilíbrio.
- Enxaqueca crônica: a enxaqueca crônica é definida pela ocorrência de dor de cabeça em 15 ou mais dias por mês, durante pelo menos três meses, sendo que pelo menos 8 desses dias apresentam características de enxaqueca. Entre os fatores associados mais comuns estão o uso excessivo de medicamentos para dor, estresse constante, distúrbios do sono ou outras condições médicas coexistentes, como ansiedade e depressão.
- Enxaqueca vestibular: neste tipo, os sintomas de tontura ou vertigem estão em destaque, podendo ou não ser acompanhados pela dor de cabeça característica da enxaqueca. Acompanham a sensação de desequilíbrio ou vertigem, náusea e vômito associados ao movimento, além da sensibilidade à luz e ao som.
- Enxaqueca hemiplégica: é um tipo raro de enxaqueca que causa sintomas semelhantes a um acidente vascular cerebral (AVC), como fraqueza muscular temporária em um lado do corpo (hemiparesia). Entre os sintomas adicionais estão o formigamento ou dormência, a dificuldade para falar e alterações no campo visual. Tais sintomas costumam ser reversíveis, mas requerem avaliação médica imediata para descartar outras condições graves.
- Enxaqueca abdominal: mais comum em crianças, este tipo está associado a dores abdominais intensas em vez de dor de cabeça. Entre os principais sintomas figuram a dor na região do abdômen (geralmente ao redor do umbigo), náusea, vômito, perda de apetite e episódios intermitentes que podem evoluir para enxaqueca típica na vida adulta.
- Enxaqueca oftalmoplégica (ou retiniana): Este é um tipo extremamente raro de enxaqueca que afeta os nervos ao redor dos olhos. O quadro sintomático inclui paralisia temporária de um ou mais músculos oculares, visão dupla ou queda da pálpebra (ptose). Sua ocorrência dá-se geralmente em um lado do rosto.
- Enxaqueca menstrual: este tipo está diretamente relacionado às flutuações hormonais, ocorrendo geralmente dois dias antes ou três dias após o início da menstruação. Possui características semelhantes à enxaqueca sem aura e são mais resistentes a tratamentos convencionais.
- Estado migranoso: é uma forma grave e prolongada de enxaqueca, em que a dor persiste por mais de 72 horas, apesar dos tratamentos aplicados. O quadro de dores de cabeça é severo e extremamente incapacitante e necessita de atenção médica urgente.
Estágios da enxaqueca
1. Pródromo
O pródromo é caracterizado por sintomas premonitórios de uma crise de enxaqueca iminente, e ocorrem em até 48 horas antes do pico de dor. Os sintomas do pródromo podem incluir sede ou desejo por comida, constipação ou diarreia, náusea, rigidez ou dor muscular, especialmente no pescoço, fadiga ou bocejo excessivo, aumento da frequência de micção (urinar), dificuldade de concentração, alterações de humor (tristeza, irritabilidade, ansiedade) sensibilidade à luz, sons ou cheiros e sensação de frio.
2. Aura
A aura é um conjunto de sintomas neurológicos transitórios e reversíveis que podem incluir alterações na visão, como um arco de luz bruxuleante e irregular que se expande lentamente em direção às bordas do campo visual ao longo de vários minutos, conhecido como escotoma cintilante. Esta manifestação pode ser acompanhada por um ponto cego no campo de visão e uma incapacidade de reconhecer objetos ou alucinar imagens. Cerca de 1 em cada 3 pessoas com enxaquecas experimentam uma “aura” que começa antes da dor de cabeça ou junto com ela.
A aura da enxaqueca também pode manifestar anormalidades cognitivas e comunicativas, incluindo dificuldade em expressar pensamentos por escrito ou fala, confusão, dificuldade de concentração ou compreensão. São comuns as sensações “estranhas” na pele, como formigamento ou dormência, começando no rosto e nas mãos e se espalhando para o resto do corpo. A aura da enxaqueca dura de 20 minutos a 2 horas e geralmente é seguida pela fase de ataque.
3. Fase de Ataque
A fase de ataque de uma enxaqueca pode durar de algumas horas a vários dias. As enxaquecas geralmente começam acima dos olhos e afetam um lado da cabeça, mas podem mudar de um lado para o outro ou envolver toda a cabeça. Também pode afetar a parte inferior do rosto e o pescoço. A dor tende a ser latejante e tende a piorar com a atividade física e a inclinação do corpo para a frente.
4. Pósdromo
Após o ataque, segue-se um período de tempo conhecido como pósdromo, com duração média de 18 a 25 horas. Durante esse período, cansaço, dificuldade de concentração e rigidez no pescoço são os sintomas mais comumente relatados.
Diagnósticos
Procure um médico sempre que alguns dos sintomas aqui referidos fizerem-se persistentes.