
Embora os medicamentos componham umas das bases do tratamento da enxaqueca crônica, nem todos os pacientes apresentam uma resposta satisfatória, seja pela falta de eficácia ou pelos efeitos colaterais adversos. Para esses casos, os tratamentos intervencionistas oferecem uma alternativa minimamente invasiva, permitindo o controle da dor por meio de técnicas especializadas, como bloqueios nervosos, infusões intravenosas e neuromodulação.
Esses procedimentos são particularmente indicados para pacientes com enxaqueca crônica refratária, aqueles que não respondem bem às medicações convencionais ou que apresentam contraindicações ao uso prolongado de analgésicos e triptanos. Além disso, podem ser úteis em situações específicas, como crises prolongadas que não cedem com os tratamentos habituais, pacientes que sofrem de cefaleia por uso excessivo de medicamentos ou indivíduos com comorbidades que limitam a utilização de fármacos tradicionais.
Entre as opções mais utilizadas, os bloqueios nervosos são uma abordagem amplamente estudada. O bloqueio do nervo occipital maior, por exemplo, tem demonstrado bons resultados na redução da frequência e intensidade das crises de enxaqueca, sendo realizado por meio da injeção de anestésicos locais na região da base do crânio. Dependendo do padrão de dor do paciente, outros nervos podem ser alvo do tratamento, como o nervo supraorbital e o nervo esfenopalatino. Embora a duração do alívio varie de pessoa para pessoa, muitos pacientes relatam melhora significativa após o procedimento, podendo necessitar de reaplicações periódicas.

Outra abordagem eficaz para o manejo da enxaqueca refratária são as infusões intravenosas, especialmente em cenários de crise intensa e prolongada, como o status migrainosus. Entre as opções disponíveis, a dihidroergotamina (DHE) tem sido amplamente utilizada, proporcionando alívio significativo em pacientes que não respondem a triptanos ou anti-inflamatórios. Além dela, a infusão de lidocaína tem sido investigada como uma alternativa para o tratamento da enxaqueca crônica severa, com resultados promissores na redução da dor e na interrupção das crises. Em casos específicos, a cetamina intravenosa também pode ser considerada, devido às suas propriedades neuromoduladoras e analgésicas. Esses tratamentos costumam ser administrados em ambiente hospitalar ou em clínicas especializadas, sob monitoramento médico rigoroso.
Nos últimos anos, os avanços na neuromodulação não invasiva trouxeram novas opções para pacientes com enxaqueca. O uso de dispositivos que estimulam áreas específicas do sistema nervoso tem sido explorado como alternativa terapêutica tanto para o alívio das crises quanto para a prevenção das mesmas. Um dos métodos mais estudados é a estimulação do nervo vago (nVNS), que envolve o uso de um aparelho portátil que emite impulsos elétricos leves, ajudando a modular a resposta à dor. Outra técnica promissora é a estimulação magnética transcraniana (TMS), que utiliza pulsos magnéticos para regular a atividade neuronal no córtex cerebral, sendo especialmente útil para pacientes com enxaqueca com aura. Além disso, a estimulação elétrica transcutânea do nervo trigêmeo (e-TNS) tem se mostrado eficaz na redução da hiperatividade dos nervos trigêmeos, frequentemente envolvidos nos mecanismos da enxaqueca.
A eficácia dos tratamentos intervencionistas tem sido demonstrada em diversos estudos clínicos, especialmente para pacientes com enxaqueca crônica e refratária. O bloqueio do nervo occipital, por exemplo, tem se mostrado eficaz na redução da frequência das crises, enquanto as infusões intravenosas de DHE e lidocaína são amplamente utilizadas no controle de crises prolongadas. No entanto, a resposta a esses tratamentos pode variar entre os pacientes, sendo essencial um acompanhamento individualizado para determinar a melhor abordagem terapêutica.
Com a evolução das opções disponíveis, os tratamentos intervencionistas representam uma alternativa valiosa para aqueles que não encontram alívio com os métodos convencionais. Eles podem ser realizados isoladamente ou em conjunto com outras abordagens terapêuticas, como mudanças no estilo de vida, terapias comportamentais e suplementação nutricional. A escolha da melhor estratégia deve levar em consideração o histórico clínico do paciente, a intensidade e a frequência das crises e a presença de comorbidades.
O avanço na pesquisa sobre enxaqueca continua trazendo novas possibilidades para o tratamento dessa condição complexa. Embora os tratamentos intervencionistas não sejam a primeira escolha para a maioria dos pacientes, eles desempenham um papel fundamental no manejo da dor em casos resistentes às abordagens tradicionais. Com o suporte de um especialista, é possível encontrar a combinação ideal de terapias para garantir maior controle da enxaqueca e, consequentemente, uma melhora significativa na qualidade de vida.